
CENTRO
DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DEPARTAMENTO
DE LETRAS
ALBERTO
CHISSINGUI SARA SILVA[1]
“As
visões de África em Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões”.
Resenha
elaborada para fim avaliativo Na disciplina de Literatura Portuguesa I
ministrada pela professora Doutora Rosana Zaneletto.
CAMPO GRANDE – MS

As
visões de África em Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões.
Uma viagem ao passado: É notório que, ao estudarmos a
épica Camoniana, estamos fazendo um percurso histórico desde o surgimento de
Portugal, suas descobertas e suas conquistas. No que concerne ao estudo aqui
proposto, me debruçarei somente aos lugares em África onde Vasco da Gama passou
como eram denominados esses lugares e quais foram os maiores interesses dessas
viagens.
Logo no primeiro canto, observamos que Vasco da Gama, na
voz do narrador principal, anuncia uma viagem passando pelos lugares mais
perigosos como “mares nunca dantes navegados” Trapabana e perigos e guerras
esforçadas por gente remota. No entanto, podemos então, começar a notar os
primeiros atributos que o narrador chama ás terras onde vai navegar como:
E
também as memórias gloriosas
Daqueles
Reis que foram dilatando
A
Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e Ásia andaram devastando, [...]
(I, 2)
Logo
no primeiro canto na estrofe dois, Vasco da Gama apresenta as visões de África
como terras viciosas. Nesse sentido, podemos afirmar que essas cruzadas tinham
vários interesses, pelo primeiro discurso é óbvio entender que a fé estava
assente em primeiro lugar para a manutenção do império português, assim como a
devastação do continente.
O
narrador principal coloca em causa o signo do descobrimento para classificar os
lugares de África e outros continentes por onde o mesmo passou. Segundo algumas
pesquisas, pôde ler em uma obra do historiador António Vieira que aplica o
termo descobrir como “levantar uma tampa que nos escondia de qualquer coisa”
quando Vasco da Gama atribui o nome de “gente remota, terra viciosas”.
Para
os navegadores, viam os povos africanos n’Os Lusíadas, como uma gente estranha,
com variadas crenças religiosa até mesmo convertida em islã.
Eu
vos direi a grande praia branca
E
os homens nus e negros que dançavam
P’ra
sustentar o céu com suas lanças
(Sophia
de M. B. Andresen, Navegações)
Houve
muitos lugares onde os navegadores portugueses passaram em África como no caso da Ilha de Cabo Verde
que serviu de elo para o estabelecimento de rotas mesmo com poucos lugares
habitados e também outras regiões como eram na África do Sul e Anthilias.
Porém, a primeira sociedade africana que aparece pela primeira vez n’Os
Lusíadas é a chama Ilha de Moçambique que no conto I é referido nos versos como
“costa de Etiópia” ( I, 42 – 43 ):
(....)Já lá da banda do Austro e do Oriente,
Entre a costa Etiópica e a famosa
Ilha de São Lourenço; (... I, 42)
Ainda havia ali um olhar estereotipo devidos aos costumes e hábitos que
encontraram nesse povo:
De panos de algodão vinham vestidos,
De várias cores, brancos e listrados;
Uns trazem derredor de si cingidos,
Outros em modo airoso sobraçados;
Das cintas pera cima vem despidos;
Por armas tem adagas e terçados;
Com toucas na cabeça; e, navegando,
Anafi s sonorosos vão tocando. (I, 47)
É bem notável também que nesse encontro entre os navegadores, no caso o
povo comandado pelo Vasco da Gama não se limitaram apenas em explorar e impor
suas crenças, também houve certas curiosidades e trocas de experiências como
ideias, objetos, técnicas e formas de vida. Sabemos que isso acontece com
qualquer sociedade, sempre quando descobrimos algo novo deixamos nossas raízes
e também levamos alguma coisa característica desse povo. Veremos por exemplo no
canto abaixo:
Comendo alegremente, perguntavam,
Pela Arábica língua, donde vinham,
Quem eram, de que terra, que buscavam,
Ou que partes do mar corrido tinham? [...] (I, 50)
Ainda nesse mesmo canto, vimos como os portugueses se afirmam perante
aos povos africanos “Os Portugueses somos do Ocidente/Imos buscando as terras
do Oriente” ( I, 50 ). Essas todas são algumas características que apresentam o
tratamento que Os Lusíadas atribuem para o povo africano nos lugares por onde
navegaram. Lembrando que tudo assentava sob o domínio econômico, político e
religioso considerando-se o povo superior do universo.
Camões, ainda nesse primeiro canto em análise até então, apresenta duas
descrições para o povo da Ilha de Moçambique acima supracitado. Sendo assim,
vou apontar a primeira descrição que ele chama, ou seja, considera esse povo
como mulçumano da Ilha,
«Somos um dos das Ilhas lhe tornou
Estrangeiros na terra, Lei e nação;
Que os próprios são aqueles que criou
A Natura, sem Lei e sem Razão.
Nós temos a Lei certa que insinou
O claro descendente de Abraão, [...]» (I, 53)
Em
seguida, Camões explica a importância daquele local para então as rotas de
navegação no índico. Para ressaltar no que concerne á uma dúvida anteriormente
citada sobre “africano mulçumano?” aqui, observamos que o próprio mulçumano
considera o povo africano com gente sem religião e sem racionalidade. Assim
sendo, Camões reflete sobre os mulçumanos locais:
[...]
Qualquer então consigo cuida e nota
Na
gente e na maneira desusada,
E
como os que na errada Seita creram
Tanto
por todo o mundo se estenderam. (I, 57)
Na passagem de Vasco da Gama pela costa
ocidental de África, ela narra ao rei de Melinde no canto V, os lugares pelos
quais passou e, após deixar o arquipélago cabo-verdiano, faz da costa uma
descrição que traz consigo informações locais estranhas que até a África de
hoje einda as mesmas descrições existem:
[...] A província Jalofo, que reparte
Por diversas nações a negra gente,
A mui grande Mandinga, por cuja arte
Logramos o metal rico e luzente,
Que do curvo Gambeia as águas bebe
As quais o largo Atlântico recebe; (V, 10)
Nesse
canto acima, o termo Jalofo nos remete a uma etnia, conhecida como os Yoloff,
da mesma maneira que, o termo Mandinga, nos remete a uma outra etnia que
era extremamente vasta na época da viagem de Gama. Pelos versos, pode-se
deduzir que Jalofo, provavelmente por metonímia, designou o local em que
habitava o grupo, próximo ao encontro do «curvo Gambeia», ou rio Gâmbia, com o
Atlântico, território farto em metais preciosos. Ali se localizava ao final do
século XV o Império Mali, que realmente englobava muitos grupos étnicos, ou
nações, onde hoje ficam o Senegal e a Gâmbia, na ponta ocidental da África.
Deve-se reparar que na mesma nota para esta estrofe, o termo nações encontra-se
definido como «raças», o que no mínimo merece uma interrogação.
Já
no canto X, também observamos que o autor tem conhecimento do Império xona
Monomotapa, uma civilização suntuosa cujas ruínas ainda existem no Zimbábue,
fronteira com Moçambique. Tal império tinha relações comerciais com partes do
Oriente e teve seu ponto final no século XV, quando subjugou as tribos locais, na
região entre o Zambeze e o Limpopo;
Olha
essa terra toda, que se habita
Dessa
gente sem Lei, quase infi nita.
Vê
do Benomotapa o grande império,
De
selvática gente, negra e nua, [...] (X, 92-93)
Prevalece
então a opacidade frente à outra sociedade. Mesmo os homens de uma civilização
desse porte são reduzidos a uma massa de gente selvagem «negra e nua», uma
«bruta multidão», ou «bando espesso e negro de estorninhos», como dirá a
estrofe seguinte. Mas nesta mesma há um trecho intrigante:
Olha as casas dos
negros, como estão
Sem portas, confi
ados, em seus ninhos,
Na justiça real e defensão
E na fi delidade dos
vizinhos; (X, 94)
Ainda
para o narrador principal “Gama”, diz que o africano “Nem ele entende a nós,
nem nós a ele”. E, em seguida o seu povo aparece, “Todos nus e da cor da escura
treva”, um “bando negro”, “espessa nuvem”, que sairão “setas e pedradas” a
afugentar os portugueses. Sobre os perigos daquela gente “bestial, bruta e
malvada”, segundo as pesquisas á Veloso
sobre Gama para justificar sua corrida desenfreada e medrosa (V, 27-35):
Fala de Júpiter
Mas, quando eu pera
cá vi tantos vir
Daqueles Cães,
depressa um pouco vim,
Por me lembrar que
estáveis cá sem mim. (V, 35).
Para
finalizar com a discussão em curso que abarca as visões de África em Os
Lusíadas de Camões, percebemos durante a análise que a África mesmo sendo um
continente berço da humanidade foi e será sempre visto como um continente para
ser descoberto. Vê-se até hoje como uma África de um povo que precisa acordar e
que para além das suas ricas e densas culturas, é obrigada a ser aculturada e
levar o nome do colonizador.
Referencias bibliográficas
BECHARA, E. e SPINA,
S. Os
lusíadas. Antologia. São Paulo: companhia das letras, 2000.
CAMÕES, Luís. Os
lusíadas. São Paulo: Abril cultura, 1982.
[1]
Acadêmico Angolano pelo convênio PC-G, frequentando o 8º semestre em
habilitações Português e Espanhol.
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