terça-feira, 22 de outubro de 2013

TRABALHO ACADÊMICO 2013

 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS
CURSO DE LETRAS
 
 
                                                                                                                  
 
 
 
 
 
 
 
VINICIUS NETO
ALBERTO CHISSINGUI SARA SILVA
JAMES CESAR ROMANO
PETERSON MARTINS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDOS PÓS-MODERNOS: TORRENTES CONTEMPORÂNEAS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE – MS
OUTUBRO/2013.
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS
CURSO DE LETRAS
 
 
 
 
 
 
 
VINICIUS NETO
ALBERTO CHISSINGUI SARA SILVA
JAMES CESAR ROMANO
PETERSON MARTINS
 
 
 
 
 
 
 
 
ESTUDOS PÓS-MODERNOS: TORRENTES CONTEMPORÂNEAS
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho elaborado para a finalidade de apresentação do seminário da disciplina de Teoria de Literatura IV, ministrada no segundo semestre de 2013, sob a orientação do Professor Dr. Edgar Cézar Nolasco .
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE – MS
OUTUBRO/2013.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

AGRADECIMENTOS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecemos imensamente ao professor Dr. Edgar Cézar Nolasco e aos professores colaboradores Alessandro Fagundes Matos, Laura Cristina Revoredo e Leilane Hardoin Simões, pelo apoio, paciência e compreensão que dispensaram a este grupo durante a elaboração e conclusão deste trabalho.
 
 
 
 
SUMÁRIO
 
INTRODUÇÃO............................................................................................... 5
CAPÍTULO I
O INÍCIO, O FIM E O MEIO...........................................................................09
1.1. O HALL DE ENTRADA...........................................................................10
CAPÍTULO II
AS FACES PÓS-MODERNAS......................................................................18
2.1. JAMESON, LYOTARD E HUTCHEON: A TRÍADE AMERICANA.........19
2.2. A CRÍTICA DO JOGO ALEATÓRIO DOS SIGNIFICANTES.................23
2.3. A LÓGICA CULTURAL DO CAPITALISMO TARDIO …........................25
2.4. A TEORIA DA LIGITIMIDADE DO CONHECIMENTO...........................31
2.5. RUMO À UMA POÉTICA.......................................................................32
2.6. BAUMAN E AS INCERTEZAS FLUIDAS …..........................................34
2.6.1 O QUEIJO DERRETIDO ….................................................................38
2.6.2. A SOCIEDADE SOFTWARE …..........................................................40
2.7. EDUARDO COUTINHO ….....................................................................43
2.8. ÍTALO MORICONI ….............................................................................45
(IN)CONCLUSÃO ........................................................................................48
REFERÊNCIAS............................................................................................53
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

INTRODUÇÃO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Your future dream is a shopping scheme[1].
(Anarchy in the UK, Sex Pistols)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A pós-modernidade é um conceito de difícil definição, porque ainda estamos vivendo nessa época de transformações, e definir ou teorizar a respeito de um objeto que ainda não se está (e não se sabe se ou quando estará) completo e finalizado torna-se quase impossível. O que se dá para analisar problematizar são as características evidentes desse período no qual ainda a sociedade está imerso. Desde seu aparecimento muitos tentam definir o tempo corrente e filosofar sobre as transformações que a sociedade sofreu e vem sofrendo desde a Segunda Grande Guerra. Alguns autores contemporâneos refletiram sobre a época atual, dentre os muitos teóricos que abordaram e teorizaram, o presente trabalho priorizou por abordar e discutir o pensamento de Stuart Hall, Fredric Jameson, Jean François Lyotard, Linda Hutcheon, Zygmunt Bauman, Eduardo Coutinho e Ítalo Moricone.
Numa esfera mais ampla é bom apontar aqui, que o objetivo deste trabalho não visa apenas realizar uma periodização histórica do pós-moderno, mas sim, explicar num contexto geral as diversas características e manifestações que, mesmo bem díspares, existem e caracterizam a sociedade contemporânea. No tocante à periodização, podemos pressupor de certa forma, a existência de algumas convergências quanto aos seus conceitos, e para uma melhor estruturação didática situaremos o trabalho em uma cronologia determinada pelo período histórico que orientou esse estudo.
É mister salientar aqui as constantes mudanças e transformações inerentes ao mundo hodierno no que se refere ao termo “globalização” que constitui uma pedra fundamental na nossa análise. Pois, ao falarmos da pós-modernidade, estaremos evidentemente seguindo por um caminho inconstruto.
Este trabalho seguirá uma linha teórica desde o surgimento do conceito pós-modernidade até os tempos contemporâneos, abordando suas fundamentações e suas principais características. Pois, vivemos numa sociedade na qual surge  algo novo e cada passo torna-se evidente que  estamos rumando para lugar algum.
Este trabalho vai seguir uma ordem cronológica começando pelo acadêmico Alberto iniciará explicando um pouco sobre como está estruturado a apresentação e, em seguida, o acadêmico Vinicius prosseguirá com introdução histórica e conceitualização, trazendo à tona o percurso histórico da Pós-modernidade e diferenciando-a da Modernidade. Ainda no mesmo capítulo, o acadêmico Alberto Silva, retorna abordando as características desse período segundo os teóricos: Jameson, Lyotard e Linda, numa visão centrada nos Estudos Unidos da América e, na mesma linha, falará sobre o capitalismo tardio. Na seqüência, teremos o acadêmico James que falará sobre os conceitos da “modernidade liquida”, conceito desenvolvido pelo teórico Zygmunt Bauman. O acadêmico Peterson seguirá para falar sobre o Pós-modernismo na América Latina e, sobretudo, no Brasil, trazendo a tona os teóricos Eduardo Coutinho e Ítalo Moriconi. Para finalizar o acadêmico Alberto fará a conclusão do trabalho trazendo todos os aspectos conclusivos.
 
 
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

CAPÍTULO I
O INÍCIO, O FIM E O MEIO
 
 
 
 
Capturar.JPG
(Toda Mafalda, Quino)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.1. O Hall de entrada.
A Pós-modernidade começou a se configurar após a Segunda Grande Guerra, e iniciada no que foi conhecido como a “era de ouro do capitalismo” nas sociedades pós-industriais dos Estados Unidos e Europa. Porém, o fato que alavancou e consolidou a Pós modernidade foi a Grande Crise do Petróleo de 1973, no qual os grandes países produtores de petróleo, em sua maioria do oriente médio, agruparam-se e fundaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para elevar a receita dos países membros e aumentar o poder de concorrência com as empresas ocidentais do mesmo ramo. A OPEP lutava para conseguir aumentar seu espaço no mercado internacional frente às grandes empresas petroleiras conhecidas como as “sete irmãs”. Tal fato teve como consequência o aumento do poder do capital privado e o enfraquecimento do poder do Estado. Um reflexo desse fato foi o aumento de poder do capital privado e o consequente enfraquecimento do Estado, obrigando os governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan a diminuírem o poder do Estado e iniciarem um processo de privatização, dando início ao Neoliberalismo, incentivando a descentralização do capital, e fomentando o investimento das grandes corporações em território estrangeiro.
Podemos dizer que o Pós-modernismo é uma condição de estética e sócio-cultural que se sobrepõe a conceitos modernos, dando início a uma nova tendência. O pós-modernismo não deve ser encarado apenas em um único foco, pois abrange várias áreas tanto na arte, filosofia, política, comportamento, identidade do sujeito e etc. Há quem afirme que a Pós-modernidade é uma extensão do Moderno. No âmbito das artes, o Pós-Modernismo surge como uma contra proposta ao Modernismo, adicionando tendências filosóficas Pós-modernas na literatura, nas artes e na sociedade.
Acerca do uso do termo, é preciso conceituar e separar os conceitos de a Pós-modernidade, Pós-modernismo e Pós-moderno. A Pós-modernidade é o conceito atrelado à filosofia e à época, desde seu surgimento até o contemporâneo; o Pós-modernismo é o conceito análogo ao mundo das Artes e o Pós moderno.engloba os dois conceitos anteriores. Na área da filosofia, é o estado de existência depois da modernidade, no qual demarca o seu fim. No entanto, alguns filósofos associam a Pós-modernidade com positivismo. Ele representa uma ressurgência do contra-iluminismo.
A raiz do pós-modernismo, segundo teóricos, se constitui no sec. XV e se firmam no século XVIII. A Modernidade nessa época passa a ser criticada pelos seus conceitos fechados, no qual a verdade adotada como crença, chega-se a razão, além da história linear rumo ao progresso. Para quebrar tais dogmas, surgem novas propostas e valores nos quais se busca estritamente a razão, sem se deixar levar pelo misticismo. A partir daí, podemos dizer que surge o Pós-Modernismo.
No entanto, surgem conflitos no decorrer do tempo e do desenvolvimento da sociedade e outras áreas. O termo “Crise de Representação”, citado por Hall, assola as artes e as linguagens em âmbito pós-modernista, diretamente ligado a destruição das referências que até certo tempo, guiavam a sociedade. O que podemos dizer é que a Pós-Modernidade “repensa” os conceitos modernistas.No campo das artes, o pós-modernismo exerce uma função no qual exigem um grau mais alto de abstração e interação lógica, pois essas tem interação maior com a realidade.
Hall, no livro A identidade cultural na pós-modernidade aborda o sujeito situado numa sociedade pós-moderna. Mas antes demarca o sujeito em três épocas: a identidade do sujeito do iluminismo, o sujeito sociológico e identidade pós-modernista. Primeiro explica o sujeito iluminista, dizendo que a sociedade da época não interfere na sua “vida cultural” e que o próprio sujeito é quem transforma a sociedade. Além disso, vale lembrar que nessa época, o sujeito iluminista passaria por um processo transitório: Filosofa, chegando a conclusão de que ele não é mais o centro do universo, dotado de um pensando linear. Buscar razão científica para tudo que ocorre se desprendendo do viés dogmático imposto pela igreja.
Essa transformação iluminista ganhou força com os acontecimentos do séc. XV com a Revolução Protestante, liderada por Martinho Lutero, na Alemanha. Antes de falar sobre os outros dois tipos de sujeitos, vamos abordar o quesito de mudança da modernidade tardia. O que move essa mudança é processo de globalização. Segundo Marx, “é o permanente revolucionar de a produção o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimentos eternos”[2].
Partindo de um viés político, temos uma noção de como ocorrem essas mudanças. Quando o sujeito vê-se obrigado a lutar pelos seus direitos, tendo que sair para protestar. Esse é um exemplo de mudança. Não obstante, podemos dizer de acordo com esse fragmento, que a mudança ocorre junto com as inovações tecnológicas vigentes. Aí identificamos também, que sociedade sofre mudança constante. Entretanto, há a necessidade de distinguir “sociedade moderna” com “sociedade tradicional”. (Giddens, 1990) faz essa distinção.
Nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contém e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado,presente e futuro, os quais por sua vez, são estruturadas por práticas sociais recorrentes[3].
A distinção é clara, porém deve salientar que andam juntas e que provocam tais mudanças. “em contraste, não é definida como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e contínua, mas é uma forma altamente reflexiva”[4].
Mais a frente, junto com a revolução industrial, surge uma nova linha de pensamento político com Marx e Engels, questionando a eficiência do crescimento econômico desenfreado, causando assim uma disparidade social e o surgimento da hierarquização do povo, onde muitos têm pouco e poucos têm muito. É o surgimento da burguesia e o proletariado. Com os pensamentos de Marx, o sujeito passa a pensar no coletivo, na sociedade como um todo, no qual o maior problema dessa desigualdade social é concentração de capital na mão dos patrões. Cresce ao mesmo tempo teorias que abordam a capacidade do sujeito de formação cultural. O sujeito se constrói no decorrer do tempo. Tem a capacidade de “formar” seus conceitos. Ou seja, é a “formação inconsciente do sujeito”.
Esse estudo surgiu dentro da psicologia, ou seja, o sujeito se forma seguindo um duplo caminho. De um lado sendo influenciado pela sociedade onde vive, obtendo convicções culturais, do outro construindo sua identidade psicologicamente.
Nesse âmbito surge o conceito de “poder disciplinar”, criado por (Focault, 1986), tal conceito surge para explicar o processo de neutralizar o sujeito na sociedade. Surge como uma ferramenta de controle do sujeito e o condicionamento mental do mesmo. A partir dai, surge uma contra proposta. Os movimentos sociais que aparecem para quebrar um eixo paradigmático. Um exemplo desses movimentos são os movimentos feministas, que brigam pelo direito da mulher, os movimentos de sem terra e sem teto. Ambos esses grupos, expõe um sistema deficiente.
Mais adiante, surge o conceito de comunidade imaginada, citado por Hall, onde é abordada a identidade particular do sujeito na perspectiva da identidade nacional. A identidade nacional é o que dá base a construção da identidade cultural do sujeito no qual vários pontos são abordado como a nacionalidade, por exemplo, ou o passado histórico da nação.
Roger Scruton argumenta que a identidade nacional faz parte da nossa “natureza essencial”. Ele diz que “a condição de homem (...) exige que o indivíduo(...) faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo algo como mais amplo como um membro de uma sociedade, grupo, classe (...)”[5] Scruton indica que o sujeito se firma em termos de identidade ao se situar dentro da nação como um componente que compõe a mesma. Conceitos acerca da identidade cultural fazem emergir fora do âmbito da teoria literária, doutrinas políticas, como o nacionalismo. Gellner, também teria a mesma ideia de identidade nacional ao afirmar que se a ausência dessa identidade nacional, o sujeito sofreria de “um profundo sentimento de perda subjetiva” Ou seja, dá por entender que o sujeito seria um apatriado, ou um sem cultura.
Além da identidade cultural do sujeito, a identidade nacional se constitui também, através do discurso. O discurso é uma ferramenta poderosa no momento da constituição de sua nação e seus feitos históricos. Anderson afirma que sem discurso não há nação e seus fatos históricos desde sua criação como um estado propriamente dito, desde a construção de suas memórias são disseminadas pelo discurso. É isso que conecta uma sociedade com comunidades externas.  Para Anderson, identidade cultural nacional é uma comunidade imaginada e, o que diferencia uma nação de outra é a maneira de como ela é imaginada. Para Hall, uma nação moderna se constrói a partir de cincos conceitos enumerados por ele. Narrativa da nação; A ênfase sobre as origens e seu posterior desenvolvimento; Menção da tradição, segundo Hobsbawm e Ranger, O mito fundacional; A ideia do “povo puro”[6].
Começamos pela narrativa da nação. Uma nação se constitui narrando estórias sobre ela, ou seja, a nação passa pela literatura nacional, pela cultura popular e pela mídia e etc. Essas, por sua vez, tem participação fundamental para divulgar os fatos históricos que constituíram a nação, tal como triunfos passados, desastres, perdas e experiências partilhadas. Esse processo de construção dá sentido à nação.Há uma estratégia discursiva em jogo por aqui. É a “invenção da tradição”, que busca dar um pouco mais de ênfase nas histórias contadas sobre a nação em específico. “Tradição inventada significa um conjunto de práticas, de natureza ritual ou simbólica, que buscam inculcar certos valores e normas que buscam certos valores e normas de comportamento através da repetição.”[7]
A partir do momento que essa técnica discursiva ganha força, ela passa a se tornar um “mito fundacional” (Hobsbawm e Ranger), ou seja, a comunidade em questão passa a acreditar na história como se, de fato, fosse real. Tradições inventadas acabam causando desordem na comunidade.
Por fim, temos a identidade nacional, que segundo Hall, essa concepção parte da ideia de folk puro. Esse, por sua vez, raramente exerce um papel relevante no exercício do poder. Estes são os conceitos que surgiram para responder sobre como é definir uma nação. No entanto, esses conceitos não soam tão modernos como aparentam. Existe certo equilíbrio entre o passado e o futuro, feitos heróicos do passado e avanço para o futuro.
 
 
 
 
 
 
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

CAPÍTULO II
 
AS PRINCIPAIS FACES PÓS-MODERNAS
 
 
 
 
Em um formato conciso, A guinada cultural traça o movimento de uma das principais inteligências culturais de nosso tempo na busca pelas formas mutáveis do mundo pós-moderno. Os resultados deixarão pouca indiferença.[8]
Perry Anderson
Abril de 1998
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.1. Jameson, Lyotard e Hutcheon: a tríade americana.
 
A palavra Pós-modernismo, citada pelos autores aqui abordados, ou seja Fredric Jameson, Jean Françoise Lyotard e Linda Hutcheon, podemos perceber que não surgiu num só espaço de tempo específico e nem com um ou dois críticos. É bem visível que teve o seu êxodo no modernismo, tendo como uma das suas principais características “a diferença”[9]. Entretanto, o pós-moderno se contrasta com o alto modernismo em diversas características e ideologias, uma delas é a morte do sujeito. A preocupação pós-moderna não é com as mudanças em si, mas sim quando isso ocorreu e, principalmente, como isso ocorreu.
No desenrolar do seu percurso histórico do termo em destaque, observamos que em 1954, com o fechamento da Black Mountain College, a poesia de Olson tomou um caráter mais vagante e daí, perdermos a referência do pós-moderno.
Outro teórico Pós-Moderno Fredric Jameson, um dos principais críticos da sociedade contemporânea, caracteriza esse período como um “novo tipo de vida social e de uma nova ordem econômica”[10].  As características desse estilo surgem, então, a partir da história de sua origem e de suas ideologias.Segundo Jameson: “o pastiche é a paródia pálida, a paródia que perdeu o seu senso de humor. Afirma Jameson, que nos leva à pensar em outra característica desse estilo: “o modo nostálgico”[11], também proposto por esse teórico.
O “modo nostálgico” proposto por Jameson, “ou estilo retrospectivo”[12] se refere ao modo como o sujeito pós-moderno se mostra preso ao passado devido sua aparente incapacidade de criação do novo e de observação real do presente. O objetivo de tal característica não é reviver o passado, mas sim experimentá-lo novamente, apropriando-se, por meio do pastiche, de produções anteriormente vividas. Tal como dialoga Santiago: “Eu não diria que o pastiche reverencia o passado, mas diria que o pastiche endossa o passado, ao contrário da paródia, que sempre ridiculariza o passado”[13].
Isso nos leva mais uma vez ao pastiche: em um mundo no qual a inovação estilística não é mais possível, tudo o que resta é imitar estilos mortos, falar através de máscaras e com as vozes dos estilos no museu imaginário.[14]
Assim, o que mais atrai na teorização do pós-moderno é a sua capacidade de repor o moderno em questão.O teórico fala também sobre a internet, que trouxe rapidez na divulgação de informações,O pós-moderno traz um aspecto muito forte que são os movimentos sociais - as lutas das mulheres, as lutas dos homossexuais e as lutas dos negros, nos quais o direito de falar é legítimo e imprescindível.
Outros elementos característicos da literatura pós-moderna são a intertextualidade, a semelhança à linguagem cinematográfica, a auto-reflexão, a miscigenação (relação) do erudito com o popular, o pastiche e a paródia. O pastiche, como uma característica muito importante, relaciona-se com a intertextualidade, porém se apropria sem citar suas fontes e referências, se aproximando da paródia, mas ausente de uma ironia interna.
A dessacralização é um dos marcos desse movimento, o homem torna-se parte da obra, fazendo com que o pós-moderno se transforme em uma imagem cultural de grande influência e poder, ultrapassando a duração de um “modismo” e o encarando como um movimento poderoso; tornando-o uma negação ao moderno, já que abandona e rompe com um termo, sendo indefinido, pois não é possível definir sua amplitude como um todo.
Santiago também pontua uma característica, talvez a principal delas, que diferencia pastiche e paródia: “(...). A paródia é mais e mais ruptura, o pastiche mais e mais imitação, mas gerando formas de transgressão que não são as canônicas da paródia”[15] Ainda conforme o autor explica “o pastiche, assim como a paródia, é a imitação de um estilo peculiar e único, o uso de uma máscara estilística, o discurso em uma língua morta.”[16]
O pós-moderno se contrasta com o alto modernismo em diversas características e ideologias, uma delas é a morte do sujeito.Lyotard chama esse efeito de “computadorizado da sociedade”.
O realismo corresponde ao capitalismo de mercado, o modernismo ao capitalismo monopolista, e o pós-modernismo ao capitalismo tardio/multinacional/de consumo. Dessa perspectiva, o pós-modernismo é o dominante cultural ou a lógica cultural da terceira grande etapa do capitalismo[17].
A cultura no pós-moderno adere à ideia de produto, afirmando a premissa de que o capitalismo tardio é a fase em que as “máscaras” caem e o objetivo principal torna-se a comercialização, inclusive da cultura.O gosto, que é uma categoria subjetiva, diz respeito ao sujeito, não à obra, e não está mais necessariamente conectada a beleza.
“A era do gosto tem sido sucedida pela era do sentido, e a questão central não é se algo é de bom ou mau gosto, mas sim o que significa. A estética da paródia. A paródia é mais ruptura, o pastiche mais e mais imitação.”[18]
 
2.2. A crítica do jogo aleatório dos significantes
Jameson começa a fazer uma abordagem mais precisa no que tece a rubrica do Pós-modernismo no seu livro A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, ao estender este estudo às várias formas de arte. Numa das suas correntes de pensamento destaca essa rubrica, “a lógica cultural articulada pelas determinações do que se convencionou chamar eufemisticamente de nova ordem mundial (...)”[19]. Assim sendo, o autor parte de um objetivo mais coercivo ao “mapear o presente e nomear o sistema que organiza nossas vidas, nossas manifestações culturais e nossos esforços de compreendê-lo”[20].
Crítico literário por formação, Jameson expandiu a capacidade de ligar o texto ao contexto sócio-histórico que forma e informa - característica definidora da melhor análise literária -, para incluir a interpretação crítica das diferentes teorias e práticas culturais que fazem a mediação entre o homem e o mundo.[21]
No inicio do livro, A lógica cultural do capitalismo tardio, podemos perceber que Jameson parte das formulações de Ernest Mandelde nacionalidade Alemã e que viveu a sua vida profissional na Bélgica que, em sua tese sobre o capitalismo tardio, expõe o atual terceiro estágio desse sistema que o mundo vive “a globalização” que sucedeu então os estágios do “capitalismo de mercado, do monopolista ou imperialista e do multinacional”[22]. Essa experiência lhe serviu para dar seqüência as suas nobres e ricas teorias no novo mundo onde o sujeito não precisa gastar muito esforço físico, mas sim usar a mente para articular a tecnologia que está em sua volta e que em vez de se preocupar com a lógica cultural especifica ao capitalismo tardio, ele aponta o pós-modernismo como a principal lógica deste estágio.
Jameson nas suas análises, é bem notório quando aponta “as acentuadas incompatibilidades entre a cultura e a infra-estrutura organizacional da economia do capitalismo global”[23] o que torna seu projeto intelectual nas suas essenciais abordagens totalizante. Segundo o crítico, “Ao contrário de tantas correntes do pensamento contemporâneo, direta ou indiretamente pautada pelo slogan de Lyotard – “Guerra ao todo, testemunhamos o inapresentável, ativemos as diferenças”[24] -, Jameson entende que o verdadeiro desafio do capitalismo tardio consiste em aprender e expor o conteúdo total, procurando dar conta das contradições do presente e evitar, ao máximo, as armadilhas da ideologia.
Tendo em conta essas diferenças, consideramos assumidamente o vídeo como uma forma de arte por excelência do capitalismo tardio devido o seu posicionamento e a sua relevância na sociedade do novo mundo. Por outro lado, o período pós-modernismo trás essas características não para mudar radicalmente o modernismo, mas sim, para melhorar tecnologicamente “científico-histórico” o que caracterizou o período que antecedeu. Em outras palavras, podemos dizer que, este período em foco, visa abordar questões correspondentes à época de muitas inovações.
Expondo as implicações culturais, políticas e sociais do pós-modernismo, o autor, crítico literário por formação, analisa obras de diferentes artes e a nova posição que a cultura assume no estágio multinacional do capitalismo. Discutindo teoria crítica, arquitetura, cinema, vídeo e economia, Fredric Jameson fornece uma visão enciclopédica da cena cultural contemporânea.[25]
 
2.3. A lógica cultural do capitalismo tardio
Jameson começa a fazer uma retrospectiva nesse capítulo sobre um passado meramente catastrófico que fora substituído então pelo pós-modernismo. No entanto, o crítico aponta o “repúdio ideológico ou estético” como principal mentor dessa ruptura historicamente falando.
As intricadas análises de Jameson mostram a incompatibilidade cada vez mais acentuada entre as possibilidades de figuração disponíveis para a cultura e a infra – estrutura organizacional da economia do capitalismo global.[26]
O pós-modernismo surgiu para não para acabar com o modernismo, mas sim, para mostrar, ou seja, ilustrar a realidade das coisas. Numa visão mais ampla, podemos perceber segundo o ponto de vista de Jameson que,
Não é somente o fato de que Picasso e Joyce não são mais considerados feios; agora eles nos parecem bastante realistas e isso é resultado da canonização e institucionalização acadêmica do movimento moderno, processo que remonta aos fins dos anos 50.[27]
Segundo o crítico, essa seria a maneira mais plausível para então explicar o surgimento do pós-modernismo através dessa oposição que os caretava. Por outro lado, podemos perceber que a partir dos anos 60 a visão era diferenciada porque os intelectuais possuíam um estilo de pensamento empiricamente anacrônico, isso porque deixava em dúvida os conceitos básicos como o da verdade, da razão, da identidade e da própria subjetividade; bem, também podemos salientar que as ideais de progresso e emancipação universais e fundamentos próprios de argumentação, ou seja, o movimento se torna amplo e indefinível chegando a destruir mesmo sem muita potencialidade as barreiras da culta popular e a alta cultura.
No desenrolar do texto, percebe-se a presença de uma grande figura Raymond Williams que contribuiu muito no que tece ao período pós-modernismo ilustrando algumas imagens de sapatos. Dentro das suas teorias, aponta as “formas residuais e emergentes de produção cultural”[28]. Ainda na mesma vertente, diz o autor que, A cultura é transformada em produto: “O pós-modernismo é o consumo da própria produção de mercadorias como processo. O estilo de vida da superpotência tem, então, como o fetichismo da mercadoria (...)”[29]
Jameson ao abordar as questões “dos trabalhos canônicos das artes visuais do alto modernismo”[30] como o seu ponto de partida nessa perspectiva, parte do principio de que;
Primeiro, quero ressaltar que, para evitar que essa imagem extensamente reproduzida caia ao nível do meramente decorativo, é preciso reconstruir a situação inicial de onde surge a obra acabada. A menos que essa situação – que desapareceu no passado – seja de algum modo restaurada mentalmente, o quadro vai continuar a ser um objeto inerente, um produto final reificado, impossível de entender como um ato simbólico propriamente dito, como práxis e produção.[31]
Isso nos ajuda a compreender que nem sempre esquecemos totalmente o passado, pelo contrario, ele nos fortalece a percorrer num bom caminho capaz de melhor o que outrora falara. Quando se refere ao sapato propriamente dito, já podemos imaginar que se trata de sapatos de um camponês em condições não obvia e que talvez para um homem pós-moderno possa vir fazer algo melhor que venha atravessar barreiras e continua vai sempre ser o mesmo.
Ainda no que concerne ao termo, podemos destacar que, o declínio do modernismo clássico, ou alto modernismo no ponto de vista de Jameson, foi um dos principais fatores que levaram o aparecimento do então pos-modernismo através das reações e manifestações modernas já canonizadas.
A maior parte dos pós-modernistas surge como reações específicas contra as formas estabelecidas do alto modernismo, contra este ou aquele alto modernismo dominante que conquistou a universidade, o museu, a rede de galerias de arte e as fundações. Esses estilos, primeiramente subversivos e polêmicos – o expressionismo abstrato, a grande poesia de Pound, Eliot ou Wallace Stevens, o internationalstyle (Le Corbusier, Gropius, Mies Van de Rohe), Stravinsky, Joyce, Proust e Mann -, recebidos por nossos avôs como escandalosos e chocantes, são tomados pela geração que desponta na década de 60, como sistema estabelecido e o inimigo – morto, asfixiado, canônicos, esses são os monumentos retificados que devem ser destruídos.[32]
São todos princípios de grandes teóricos que contribuíram, ou seja, que realçaram no surgimento do Pós-Modernismo. Numa outra visão de Jameson, salienta que, para que se tenha uma boa concepção do pós-modernismo, devemos primeiramente entender e compreender historicamente o presente e a condição desse conceito, por meio de suas mudanças e variações do mundo em que a cultura se torna objeto.
Estamos aqui tentar explicar até então, o capitalismo tardio segundo a linha do pensamento de Jameson, e como se não bastasse, seria complicado adentrar bruscamente no assunto sem antes ter que fazer esse breve percurso histórico que levou o surgimento da palavra pós-modernismo até nos dias de hoje. Bem, numa visão mais ampla podemos aqui salientar que, o que surge várias esferas da sociedade éartístico, arquitetos, músicos e cineastas com novas propostas e idéias e todos eles com uma finalidade de encarar a realidade diferentemente do fora a tempo atrás.
Podemos então explicar que o caráter populista explicado pelo autor não se refere apenas na arquitetura, mas sim, nas outras manifestações artísticas e culturais surgindo a então chamada cultura de massa. Também é obvio explicar nessa mesma linha que
o pós-modernismo tem revelado um enorme fascínio por causa da paisagem degradada da brega e do kitsch, dos seriados de TV, da cultura do Readr’sDigest, dos anúncios de motéis, dos lates de shows, dos filmes B. Hollywoodianos, da chama paraliteratura – com seus bolso livros de aeroporto e suas subcategorias do romance e do gótico, da biografia popular, das histórias de mistérios e assassinatos, das ficções cientifica e do romance de fantasia: todos esses materiais não são mais apenas citados, como poderiam fazer um Joyce ou um Mahler, mas são incorporados à própria substancia.[33]
Nesta vertente, podemos perceber então, que a ruptura não se dá apenas no âmbito cultural, mas sim, ela passa a ser vista como uma nova formação da sociedade que está surgindo, que segundo o crítico Daniel Bell chama de sociedade pós-industrial, ou seja, sociedade de consumo, da mídia e da informação.
Para Jameson, aponta algumas características próprias que postulam na sua linha de pensamento nesse período pós-modernismo. Assim sendo, fala do pastiche que carrega uma singularidade que faz com que certas obras sejam inconfundíveis. Ainda na mesma linha, diz ele que, tanto umas quanto as outras envolvem a imitação, a mímica de outros estilos marcados pelo maneirismo e cacoetes estilísticos. Aponta também a parodia que vai ridicularizar o estilo original das obras de forma cômica e satirizada ligado ao conceito de pastiche. Cita também o modo nostálgico como uma das características desse período que vai suceder o cinema.
Ele aborda também a “morte do sujeito”[34] como o fim do individualismo enquanto tal. E para finalizar sobre as características que o autor considera relevantes no campo do pós-modernismo, não podemos esquecer o “fim da história, ou perda da historicidade, ou surdez histórica” por acreditar que não existe mais a idéia do progresso, principalmente ao se referir do modernismo no qual cada obra poderia superar à anterior.
Os filmes de nostalgia recolocam a questão do pastiche e a projetam em um nível coletivo e social, em que as tentativas desesperadas de recuperar um passado perdido são agora refratadas pela lei inexorável da mudança da moda e da emergente ideologia das gerações. O filme que inaugura esse novo discurso estético, o American graffiti (1973), de George Lucas,(...)[35]
Sob o ponto de vista de Jameson, o grande teórico do pós-modernismo, podemos aqui deixar uma pequena e simples reflexão que venha conceituar o termo em destaque. Pós-modernismo segundo o autor, não se trata apenas de mais uma palavra para descrever um estilo particular, mas correlaciona o surgimento de um novo tipo de vida social e de uma nova ordem econômica.
E, em seu livro “Espaço e imagem”, Jameson aborda questões que buscam apontar o pós-modernismo como um personagem pós-colonial norte-americano isso porque o autor destaca que, “A Europa continua sendo o lugar do universal, enquanto a arte de Caliban não representa nada além de um acúmulo de especificidades locais”[36]. Ainda no mesmo livro, o autor continua dialogando, ou seja, discutindo a questão entre “o poder e saber, entre o epistemológico e o político” para entender o que se referiu acima supracitado.
Na teoria do espaço e imagem, o autor explica no título “Transformações da imagem na pós-modernidade” que,
Quando emergem as estruturas modernas do poder-saber, e se propagam pelo mundo traves de formas de visibilidade e visualidade, torna-se inútil postular a criação de qualquer enclave de não dominação ou não visibilidade como meta política. Tais enclaves são, na melhor das hipóteses, sobrevivências, árias atrasadas nas quais a eficiência e a racionalização visual ainda não penetram completamente.[37]
Nesta vertente é claro perceber que o autor, explica detalhadamente essa mudança em sentido mitológico do conceito de liberação ou de resistência., no ponto de vista de Jameson, quando fala do espaço e imagem, hoje em dia diríamos da possibilidade da intensa imbricação entre mídia, cultura e consumo, tomando esta articulação como um aspecto central no contexto contemporâneo, ou seja, na rapidez das nossas imagens que vazam na mídia e no mundo em geral através da tecnologia e da globalização. Nessa teoria podemos aqui dizer que, essa introdução tecnológica muda a produção da imagem conforme explica Jameson;
Nesse ponto, entretanto, onde a fotografia, o cinema e a televisão começaram a se infiltrar na obra de arte visual e a colonizá-la, produzindo híbridos altamente tecnológicos de todos os tipos, de instalações à arte computacional, muda o tom.[38]
 
Numa visada mais ampla, podemos destacar que, o papel do entretenimento e das paisagens audiovisuais será como principais produtos da cultura midiática, e, sendo assim, a espetacularização e a estetização do nosso cotidiano vão ser entendidos como eixos da organização dos padrões econômicos e socioculturais do mundo atual, no qual nos encontramos.
Para Compagnom e outros, o pós-moderno tem, assim, pelo menos uma função positiva: limpar a tradição moderna de seus motivos anti ou transestéticos, purificá-la de tudo que era protopolítico ou histórico, ou mesmo coletivo, e retornar a produção artística à desinteressada atividade estética que uma certa tradição burguesa (mas não a dos próprios artísticas) sempre lhe atribuiu.[39]
 
2.4. Lyotard e a teoria da legitimidade do conhecimento
Ao adentrar na linha de pensamento do crítico, é obvio apontar o seu livro “condição pós-moderna” que segundo o ponto de vista de muitos teóricos é considerado como uma bíblia do movimento pós-modernismo por analizar a legitimação do conhecimento que se transforma com o avanço da era da informática. Essa corrente pós-modernista apresenta várias concepções sobre o conhecimento, particularmente no campo do conhecimento computadorizado que na nossa sociedade “pós-modernismo” se torna acessível a todos na sociedade.
Após a segunda guerra mundial, Lyotard acredita que a Cibernética (computadores, sistemas de telecomunicação e outras várias disciplinas de processamento de linguagem) passariam a dominar a sociedade e a economia no seu todo e que conseqüentemente viesse a mudar profundamente o status do conhecimento apesar de que isso está se vivendo atualmente por meio de muitas redes sociais e não só como também no concerne ao controle político, econômico e social de uma nação.
Numa sociedade em que o componente comunicacional torna-se cada dia mais evidente, simultaneamente como realidade e como problema, é certo que o aspecto de linguagem (...) adquire uma nova importância, que seria superficial reduzir à alternativa tradicional da palavra manipuladora ou da transmissão unilateral de mensagens, por um lado, ou da livre expressão ou do dialogo, por outro.[40]
Para Lyotard, a ciência não pode mais legitimar por si mesma, ou seja, ela não pode se comunicar e nem a outros jogos de linguagem. A demissão desses jogos devolve o sujeito e torna a linguagem o vinculo social, a transformação dos sábios em cientistas. Razões óbvias que o autor defende nesse período pós-modernismo.
Ainda seguindo na linha de pensamento de Lyotard, podemos perceber que para alem desse livro “condição pós-moderna” é obvio apontar outro seu livro de caráter importantíssimo por se referir á um assunto que desperta a mente de muitas crianças e intelectuais que vivem buscando um saber cada vez mais coeso. Trata-se do livro intitulado O pós-modernismo explicado às crianças. Esse livro aborda questões relacionadas ao livro já citado Condição pós-moderna por ambos se preocuparem com a questão de uma possível ruptura entre a modernidade e o pós-modernismo.
Em seu modo de abordar, é bem visível que em suas cartas ele não defende uma mudança brusca da modernidade para o pós-modernismo, mas sim, procura explicar que houve apenas uma simples mudança por constituírem nos seus discursos científicos regras mais explicita. Dentro de suas teorias, podemos perceber que Lyotard não é a favor de uma ruptura nem de uma simples sucessão de acontecimentos, mas sim, por uma existência de nova direção dos fatos, ou seja, da vida na sociedade.
2.5. Rumo à uma poética:teorizando o pós-moderno.
Entre todos os termos que circulam na teoria cultural atual e nos textos contemporâneos sobre as artes, o pós-modernismo deve ser o mais sobredefinido e o mais subdefinido. Em vista de toda a confusão e de toda a imprecisão associadas ao próprio termo (...), gostaria de iniciar afirmando que, em minha opinião, o pós-modernismo é um fenômeno contraditório, que usa e busca, instala e depois subverte, aos próprios conceitos que desafia (...)[41]
No livro Poético do pós-modernismo, Hutcheon - a autora do livro - considera o termo em uso como uma palavra muito usada e ao mesmo tempo mal usada em várias matérias acadêmicas, ou seja, que constituem a grade de muitos intelectuais. Ela no seu prefácio aponta as disciplinas de literatura, teoria literária, artes visuais, cinema, arquitetura, historia e filosofia como uma dessas que muito usam e ao mesmo tempo mal, o termo pós-modernismo.
Na epígrafe acima referida, podemos perceber que a autora afirma o posicionamento do título do livro “ poética do pós-modernismo” como algo que não apareceu para defender nem para denunciar o pós-modernismo, porém, para contribuir a entender a sociedade atual. Por mais que apresente certas contradições entre alguns princípios do modernismo ao pós-modernismo, é obvio que se trata da questão autoconsciência na arte.
Suas contradições podem muito bem ser as mesmas da sociedade governada pelo capitalismo recente, mas, seja qual for o motivo,sem dúvida essas contradições se manifestam no importante conceito pós-modernismo da “presença do passado”.[42]
Podemos, mais ou menos, perceber, afinal de contas, porque dessas possíveis contradições que autora vem apontando durante o desenrolar do texto. Hutcheon, no seu texto, aponta algumas características do pós-modernismo como a “parodia histórica” não no sentido do “retorno nostalgia” conforme vimos em Jameson e Lyotard que seria voltar para o passado, mas sim, trata-se de uma “revelação crítica, um dialogo irônico com o passado da arte e da sociedade, a ressurreição de um vocabulário de forma arquitetônica criticamente compartilhada”.
 
2.6. BAUMAN E AS INCERTEZAS FLUIDAS
Para tentar entender o cenário globalizado e amorfo no qual se encontra a sociedade atual, surge a figura de um sociólogo polonês chamado Zygmunt Bauman e sua teoria da fluidez do tempo e da sociedade. A liquidez foi tomada como uma metáfora recorrente nas obras deste autor para explicar essa fluidez na qual está inserido o mundo contemporâneo, e para explicar essa aparente aceleração do tempo. O indivíduo vive numa incerteza existencial e econômica e social, e, é nessas incertezas, que Bauman analisa as transformações pelas quais a era atual, ou
Pelo menos na parte “desenvolvida” do planeta, têm acontecido, ou pelo menos estão ocorrendo atualmente, algumas mudanças de curso seminais e intimamente interconectadas, as quais criam um ambiente novo e de fato sem precedentes para as atividades da vida individual, levantando uma série de desafios inéditos.[43]
Outros autores nominaram de Pós-modernidade, numa forma de distinguir esses tempos, assim, o que Gilles Lipovetsky denominou de “hipermodernidade”, Bauman denominará de “modernidade líquida”. Bauman surgirá como uma “terceira via” para explicar a sociedade contemporânea: um mundo, que outrora, dividido entre o Positivismo e o Marxismo necessita dessa “terceira visão”, pois essas duas estruturas “sólidas” já não comportavam conceitos que explicassem o que as mudanças pela qual a sociedade estava (e ainda está) passando numa velocidade em que não se sustentam por muito tempo, pois
(…) a passagem da fase “sólida” da modernidade para a “líquida” – ou seja, para uma condição em que as organizações sociais (estruturas que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois se decompõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las (…)[44]
O ritmo da sociedade atual não permite ações planejadas em longo prazo, pois a vida tornou-se curta para realizações estáveis e duradouras. A sociedade, as artes, a política, a tecnologia, tudo se tornou extremamente instável, e os tempos hodiernos não permitem mais ações humanas nem mesmo relações de longo prazo. Esse “derretimento” das ordens estabelecidas provocou um estado de mudança constante, que se não for acompanhada corre-se o risco de ser marginalizado pela sociedade que exige do indivíduoessa condição. Todas as certezas da modernidade se liquefizeram diante de um mundo que se modifica intensamente e cada vez mais acelerado. A ordem agora não é mais chegar na frente, mas continuar na corrida por mais tempo.
As relações não mantêm mais laços duradouros, tornam-se cada vez mais flexíveis e propensas a conexões sem vínculos. Tudo agora tem uma data de vencimento e deve ser descartado, o apego é relativo à substituição: de bens, de pessoas, pois “A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada”[45]. Configura-se, então, uma disputa sem prêmios efetivos, mas simplesmente para não ficar obsoleto e “evitar ser jogado no lixo”[46] Num mundo que tende à globalização, a disputa toma uma proporção também global, ao passo que, Nesse contexto, um outro fenômeno da modernidade líquida é a separação do poder e a política, isso ocorre porque o Estado não consegue ultrapassar as fronteiras de seus territórios, ao passo que as grandes corporações privadas o fazem. Tornam-se uma verdadeira selva de dimensões globais à mercê das forças do mercado, no qual o Estado não consegue intervir e fica preso dentro de suas fronteiras.
A nova desordem do mundo. Após meio século de divisões bem definidas, tanto interesses evidentes como indubitáveis desígnios e estratégias políticas privaram o mundo de estrutura visível e de qualquer – por mais sinistra – lógica. A política dos blocos de poder que não há tanto tempo dominou o mundo assustado com o caráter horripilante de suas possibilidades (…)[47]
E agora não é capaz de exercer tanta influência no mundo contemporâneo como o capital privado. A economia ascende na escala de valores morais e o capital ocupa um lugar de destaque na vida contemporânea. O capital ultrapassa as barreiras políticas, decide os rumos do Estado e penetra na vida do sujeito comum e o prende numa cadeia de produção de capital que o deixa alienado ao papel relegado a ele na sociedade. Há uma
desregulamentação universal – a inquestionável e irrestrita prioridade outorgada à racionalidade e à cegueira moral da competição de mercado – a desatada liberdade concedida ao capital e às finanças à custa de todas as outras liberdades, o despedaçamento das redes de segurança socialmente tecidas e societariamente sutentadas, e o repúdio a todas as razões que não econômicas, deram um novo impulso ao implacável processo de polarização (…) numa escala global (…)[48]
Uma obra que pode exemplificar bem isso é o documentário do cinesta, documentarista e escritor norte-americano Michael Moore intitulado Fahrenheit 9/11, o qual demonstra a motivação político econômica por traz das políticas internacionais do governo de George W. Bush e sua relação de autoritarismo ao que concerne à guerra do Iraque e Afeganistão. Neste documentário Moore demonstra a violência da política internacional americana, o papel das grandes corporações e a hipocrisia da classe política em conivência à segurança do capital. Toda uma nação manipulada pela comunicação de massas, induzindo e convencendo uma sociedade de que a segurança do país só se dá pela intervenção e submissão, por via militar, de outros países.
O sujeito comum numa sociedade líquida tem suas vidas direcionadas pela economia e pela cultura de massas, fomentado pelo mercado que o escraviza e o conduz ao consumo de forma tão natural que já não se consegue perceber tal manipulação. Outrora o marxismo serviu para expor as estruturas do estrato social, havia uma regularidade, uma ordem que foi dissipada pelo mercado, neste momento histórico o sujeito tende a uma individualização sustentada por um modo de vida idealizado por certos privilégios alcançado por via do Estado de direito. As conquistas atuais apenas maquiaram o antigo jogo de xadrez, no qual as peças ainda são manipuladas pelas mesmas mãos, entretanto, só foram postas num tabuleiro banhado a ouro. O capitalismo cedeu parte de seu capital ao sujeito para dar uma falsa sensação de segurança e conceito de posição social para mantê-lo em constante competitividade e em constante busca por chegar ao mais alto grau cedido pela máquina do capital e atingir cume do edifício social e garantir uma enganosa estabilidade. Porém
Nenhum emprego é garantido, nenhuma posição é inteiramente segura, nenhuma perícia é de utilidade duradoura, a experiência e a prática se convertem em responsabilidade logo que se tornam haveres, carreira sedutoras muito frequentemente se revelam vias suicidas. Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem consigo a aquisição do direito a um emprego (…) Meio de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e merecimento da auto-estima podem todos desvanecer-se simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber.[49]
Nesse novo contexto global as relações interpessoais são afetadas pelos ideários construídos pela sociedade contemporânea. “Os laços inter-humanos, que antes teciam uma rede de segurança digna de um amplo e contínuo investimento de tempo e esforço, e valiam o sacrifício de interesses individuais imediatos (…)”[50].
Agora os laços se tornam frouxos e o interesse se torna evidente, velado pelas das relações de mercado e diluídas no contrato social. Não há tempo para relações duradouras, porque a sociedade que se liquefez tornou seus membros também em sujeitos líquidos. O contrato interpessoal já não tem uma estabilidade, podendo ser quebrado a qualquer momento, o que outrora era mantido por dependências que eram convenientes e mantidos por habilidades sociais permanecia atada  um estado de necessidades comuns. Agora a necessidade de dependência se tornou menos intensa, porque os recursos e as ferramentas ou serviços podem ser adquiridas no mercado. Há uma anulação das necessidades individuais, e uma crescente aglomeração flutuante de grupos empenhados em algum projeto em comum. É flutuante porque está em constante mudança, seja por quebra de contrato por interesses dissonantes, seja por substituição resultante de afinidade, qualificação ou inaptidão.
2.6.1. O queijo derretido
Há uma fábula moderna escrita em 1998 pelo norte-americano Spencer Johnson intitulada Quem mexeu no meu queijo?,um livro de auto-ajuda que narra uma estória de dois homúnculos e dois ratos, ambos vivendo em um labirinto. Todos vivem felizes, até o momento em que o Queijo acaba. Assim, três dos personagens partem em busca de mais Queijo, um deles não sai do lugar e desaparece da narrativa. O Queijo (com Q maiúsculo) é uma metáfora para aquilo que se ambiciona na vida, “esta é uma história de mudança que ocorre em um Labirinto em que quatro personagens engraçados procuram pelo “Queijo”, uma metáfora para o que queremos ter na vida: seja um emprego, um relacionamento, dinheiro (…)”[51] No entanto é preciso fazer parte (ou aprisionar-se) às leis da sociedade atual, que prega “a adaptabilidade às mudanças é uma condição indispensável para a sobrevivência de pessoas e organizações, e mais ainda para seu sucesso na economia global de hoje.”[52]
Johnson soube ler a sociedade que se configurava, a partir do final do século passado, corroboradas pelas teorias as teorias de Bauman. O sujeito que não se flexibilizar e não se tornar fluido e saber se “liquifazer”, corre o risco de ser retirado da narrativa social, como aconteceu com o personagem que não acompanhou as mudanças, permaneceu inerte e, consequentemente, desapareceu da narrativa. Bauman retira de uma metáfora do filósofo do século XIX Ralph Waldon Emerson uma imagem que ilustra o mundo pós-moderno, que se refere à corrida desenfreada por coisa alguma, Emerson, retomado por Bauman, afirma que estamos correndo no inverno sobre uma fina camada de gelo, se andar devagar o chão racha e desaparece no caminho.
Um outro livro de Johnson, que também foi best-seller, foi escrito em parceria com Kenneth Blanchard chamado O Gerente-Minuto lançado em 1981 e traduzido para 22 idiomas, e vendeu mais de 4 milhões de cópias. Nele os autores ensinam como gerenciar pessoas e aumentar a produtividade e lucratividade da empresa, nota-se como nessas duas obras já aparece caracterícticas de um pensamento pós-moderno abordado por Bauman, que a preocupação com a administração da vida parece distanciar o ser humano da reflexão ética. Os indivíduos devem gerenciar a vida e a situação sem pensar nas consequências a outrem, é divulgado a ideia de eficácia, porque se alguém não conseguir se adaptar a essa condição desaparecerá no gelo fino que se tornou a tragetória presente.
Isso deixa à parte a maioria das coisas que preenchem a vida diária de todo ser humano: a busca de sobrevivência, de engrandecimento, a consideração racional de fins e meios, a avaliação de ganhos e perdas, a procura do prazer, o poder, a política, a economia.[53]
Nos tempos líquidos há essa necessidade de gerenciamento em todas as esferas da vida. Há um dever de se cumprir metas, seja na vida particular, seja na vida profissional. É preciso subir as escadas do sucesso custe o que custar, é preciso ser o melhor, o mais competente, o mais bem informado, pois, senão, o gelo fino vai rachar, ceder e desaparecer.
2.6.2. A sociedade software
Outra mudança que ocorreu nos tempos pós-modernos a partir do final do século passado, houve uma explosão da acessibilidade à vida virtual. O ambiente virtual é outro fenômeno que representa bem a condição das relações líquidas, e as redes sociais, por exemplo, dá ao indivíduo comum uma condição de exposição global, dá a sensação de consumir e ser consumido por meio de conexões interpessoais em ambientes virtuais. Não há como ignorar que o peso do papel das redes sociais em ambiente virtual na vida cotidiana é uma realidade a ser ponderada. Antes do surgimento desse fenômeno o indivíduo só pertencia à uma comunidade se nascesse ou vivesse em um determinado ambiente. Esse conceito de pertença se transformou, e o próprio indivíduo pode construir sua identidade virtual e gerir sua própria comunidade.
Nos ambientes virtuais proliferam todo tipo de relações: relações de conhecimento, relações de mercado, relações afetivas, etc. Esse fato modifica o conceito de relação interpessoal, pois os ambientes virtuais dão a condição de estar próximo mesmo distante. A otimização do tempo recebida pelo ambiente virtual seduz, cada vez mais, todo e qualquer indivíduo da humanindade.
Na conquista do espaço, o tempo tinha que ser flexível e maleável, e acima de tudo tinha que poder encolher a crescente capacidade de “devorar o espaço” de cada unidade: dar a volta ao mundo em oitenta dias era um sonho atraente, mas ser capaz de fazê-lo em oito dias era mais infinitamente atraente.[54]
As relações se ampliaram e, nem por isso se fortaleceram, ao contrário, é possível ter relações mais duradouras, as coisas mudam tanto e numa rapidez tão alucinante que relações são contruídas e dissolvidas num simples clicar. O virtual pode ser então considerado, atualmente, o real? Os
Pensamentos (que) tinham uma aura de verdade (ou pelo menos de credibilidade), entre as realidades da modernidade sólida. (…) o advento da modernidade líquida subverte radiclamente essa credibilidade. È a capacidade, como a de Bill Gates de encurtar o espaço de tempo da durabilidade, de esquecer o “longo prazo”, de enfocar a manipulação da transitoriedade em vez da durabilidade, de dispor levemente das coisas para abrir espaço para outras igualmente transitórias e que deverão ser utilizadas instantaneamente, que é privilégio dos de cima e faz com que estejam por cima. Manter as coisas por longo tempo além de seu prazo de “descarte” e além do momento em que os “substitutos novos e aperfeiçoados” estiverem em oferta, é ao contrário, sintoma de privação.[55]
Esse é o estado das relações interpessoais na identidade virtual líquida, as relações são “coisas” que podem ser substituídas, porque o sujeito virtual não tem relação interpessoal física. São construtos de textos e imagens que nunca geram laços duradouros. As novas gerações privilegiam muito mais esse ambiente, porque “nasceram” nele e valorizam o ser virtual tanto quanto o ser físico (senão mais). Esse é o panorama atual das relações humanas, e quem não pode (ou se nega) ter acesso a esse ambiente está descartado do “relacionamento” e do “convívio” das relações atuais.
Uma reflexão que pode fechar essa discussão é: qual o papel dessa identidade virtual nas relações com as outras identidades virtuais nesse ambiente que invade a vida hodierna? Se tudo tende a mudar, e, em ambientes virtuais ainda mais, qual das vidas é preciso gerenciar melhor no mundo pós-moderno para se tornar aceito e bem sucedido? Quantas pessoas tem que saber da sua existência para satisfazer a necessidade de ser consumido? O quanto somos ou devemos ser de nós mesmos para nos manter em uma relação virtual ou pessoal que irá manter-nos em movimento e sobre o gelo fino? Quem é o verdadeiro “eu”: o virtual ou o de “carne-e-osso”?
Esse é o paradoxo do comunitarismo. Dizer “é bom fazer parte de uma comunidade” é um testemunho oblíquo de não fazer parte, ou não fazer parte por muito tempo, a menos que os músculos e mentes dos indivíduos seja exercitados e expandidos. Para realizar o projeto comunitário, é preciso apelar às mesmíssimas (e desimpedidas) escolhas individuais cuja possibilidade havia sido negada. Não se pode ser um comunitário bonafide sem acender uma vela para o diabo,sem admitir numa ocasião a liberdade da escolha individual que se nega em outra.[56]
 
2.7. Eduardo F. Coutinho
A busca pela teorização e conceito de Pós-Modernismo e o envolvimento com a produção literária contemporânea da América Latina é o enfoque do professor Eduardo Coutinho em seu ensaio intitulado O Pós-Modernismo e a Literatura Latino Americana Contemporânea.
De acordo com as palavras do autor esse diálogo começou na América Latina nos anos de 1980, dividindo crítica presente em duas posições extremas, de um lado se encontrava os críticos do plano cultural e do outro os críticos da ordem histórica. Essas vertentes buscavam encontrar o lugar, conceituar e situar o Pós-Modernismo na América Latina.
Segundo Fredric Jameson o “(...) Pós-Modernismo não é simplesmente com, um estilo, mas um dominante cultural, uma concepção que permite a coexistência de uma gama de traços muito diferentes embora subordinados”[57]. Assim Coutinho busca refletir sobre essas duas concepções teóricas descrevendo seus erros e acertos, exemplificando cada vertente crítica.
Logo, a primeira concepção, do plano cultural, tem como Borges e Garcia Márquez como ponto de referência e a América Latina como berço do Pós-Modernismo, sendo caracterizada pela valorização da heterogeneidade da formação da cultura latino-americana e sua miscelânea social, uma coexistência de mundos distintos, que permitiria o nascimento de manifestações estético-ideológicas heterogêneas.
Porém, segundo o autor, tal argumentação peca por não levar em conta o fato de que essas formações socioculturais não são resultados,e nem efeitos pós-modernos, mas são criações e produções oriundas da implementação desigual da modernização. O autor exemplifica que “as narrativas daí decorrentes - tanto os outros projetos sociais, culturais e econômicos – não são fenômenos pós-modernos, mas antes respostas alternativas ao grande récit da Modernidade.”[58]
Em seguida, a segunda vertente, de ordem historicista, argumenta que o Pós-Modernismo pouco tem a ver com a realidade latino americana, é um elemento “forâneo”, o Pós Modernismo é um fenômeno próprio de sociedades industrializadas e modernas, é correto compreender que o conceito se acha condicionado ao esgotamento do estilo de vida moderna. Mas erra ao tentar estabelecer com rigor uma relação entre pós-moderno e sociedade pós-industrial, pois generaliza e também o fragiliza o termo criando uma contradição ao tentar definir plenamente o pós-modernismo.
Em debate sobre o assunto Coutinho assevera que
A polêmica a respeito da definição de Pós-Modernismo é intensa nas últimas décadas, e não pretendemos enveredar-nos por ela aqui. Tampouco é nosso propósito discutir a adequação da terminologia escolhida para nomeá-lo, que adquire matizes variados nos diferentes campos do saber.[59]
Ao decorrer do ensaio o autor exemplifica que a vida cultural da América Latina nos anos de 1970 e 1980 são os exemplos mais claros da estética pós-moderna, pois há mais transformações ocorridas e é muito mais expressiva comparada com a anterior – o modernismo da terceira geração – tanto na ficção quanto na poesia.
O autor exemplifica as mudanças encontradas na poesia sendo o ecletismo estilístico, a retomada de textos do passado, a intertextualidade acentuada, o constante uso da metalinguagem e o tratamento parodístico em especial na Poesia Marginal, e na ficção a presença da mídia extraliterária, a polifonia de vozes narrativas, a presença frequente do uso do pastiche e consciência do texto hiperbólico.
Em conclusão, Coutinho afirma que o termo Pós-Modernismo e seus cognatos são meros rótulos que surgiram nos países hegemônicos (colonizadores), ali se construíram e se consolidaram determinado por oposição a outro termo que dominava aquele país. Ademais, o autor assegura que emprestá-lo para designar outra produção estética-cultural e literária de diferente contexto social e histórico nos países colonizados, em vários aspectos, é necessário cautela, pois nos países subordinados as manifestações literárias constituem respostas estético-ideológicas diante da sua situação socioeconômica em relação ao país dominaodor.
2.8. Ítalo Moriconi 
O Pós-modernismo na literatura brasileira, segundo o professor universitário Italo Moriconi, é uma “problemática” a ser discutida no Brasil, dentro da poesia e na prosa de ficção.
 
Pós-moderno diz ao respeito ao contexto cultural globalizado e pop-midiático já pós-modernismo é termo de periodização artística e literário, é o que vem depois de modernismo. [...] as relações entre pós-modernismo e modernismo são complexas, de continuidade e descontinuidade, permanência e deslocamento. O modernismo é uma totalidade histórica, o pós-modernismo um conjunto aberto de traços heterogêneos.[60]
O autor explica sobre a dialética do modernismo, antes de adentrar no pós-modernismo, para Moriconi “o modernismo é uma constelação cultural”[61], estabelece uma divisão metodológica do Modernismo no Brasil em três fases: o modernismo da Semana de Arte Moderna de 22, o modernismo dos anos 30 e o modernismo canônico da década de 40 até os anos 60. Essas passagens históricas e críticas do modernismo podem ser definidas, segundo Moriconi como “o impulso a dessacralização a um processo de progressiva ressublimação da linguagem artística”[62], essa pode ser considerada como a dialética modernista brasileira. 
Ao chegar ao começo da década de 70 o modernismo chega ao seu “auge”, momento histórico de completude e de fechamento da estética modernista, hora em que o modernismo já não pode ser completado, assim surge os deslocamento (descontinuidade) e repetição (continuidade) dos traços modernistas, o pós-modernismo floresce como resposta e renovação.
Mas o debate sobre a “problemática” do pós-moderno chega ao Brasil na década de 80 com o periódico Arte em Revista (1983), produzido pela USP, onde havia traduções de trechos de autores protagonistas desse debate, tal como filósofo francês Jean-Françoys Lyotard e apresentava projetos de resgate de procedência latino americana com a utilização do termo “pós-moderno”. Em 1982 o romance-diário Em Liberdade de Silviano Santiago é considerado como marco inicial da prosa pós-modernista brasileira.
O autor define o pós-modernismo como “literatura de exaustão”, diante da magnificência auto-suficiente do cânone, também diante das vanguardas que não surpreendiam mais ninguém. Logo, periodiza o pós-modernismo em duas fases nos anos de 1968 e 1984. A primeira fase é um momento ainda contracultural, onde vanguardas e pós-vanguardas se mesclam, marcada pelo apogeu de toda uma cultura revolucionária e tem a estrutura técnica do capitalismo de consumo como principal característica, já a segunda é totalmente pós-vanguardista, pós-contracultural e marcada pela superação acadêmica diante do marxismo e estruturalismo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

(IN)CONCLUSÃO
 
 
 
 
 
God save the Queen/ ‘cos tourits are money (...) Oh God save History (...) All crimes are paid (...) When there’s no future (...) We’re the flowers / In the dustbin(...) In your human machine (...) We’re the future/ Your future (...) There’s no future/ No future(...) No future for you (...) No future for me[63]
(God save the Queen, Sex pistols)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Pós-Modernismo chega para desconstruir os conceitos fechados pelo Modernismo. Teve início no Iluminismo e ganhou maior consistência no século XVIII. Ganhou força após a Segunda Grande Guerra, chegando até o fim do séc. XX. Entretanto, é muito difícil chegar a uma conclusão exata sobre a demarcação final do Pós-Modernismo, já que a sociedade ainda vive nesse período de grandes transformações.
Dentro desse âmbito, abordamos o sujeito e sua identidade na sociedade, no qual o sujeito passa por transformações e se forma intelectualmente como um indivíduo, desde que inserido dentro de uma sociedade. Surge com essas tendências os conceitos de nação e de como ela se forma, sendo até para alguns teóricos, fundamental para o desenvolvimento do sujeito e sua identidade.
A partir dos teóricos Jameson, Lyotard, Hutcheon, podemos concluir que, suas linhas de pensamento defendem quase o mesmo contingente.  No tocante ao que se refere às características desse período, podemos cá dizer que o pastiche, a parodia, o modo nostálgico, e a morte do sujeito constituem o que chamamos de pós-modernismo.
A estética da paródia, a que Octavio Paz se refere durante todo o seu livro é estética da ruptura. Nesta você enxerga o passado de uma maneira irônica, sarcástica, como se não quisesse endossá-lo, como se tudo aquilo fosse razão para seu desprezo. A meu ver é por ai que eu estaria construindo a diferença entre paródia e pastiche. A paródia é mais ruptura, o pastiche mais e mais imitação, mas gerando formas de transgressão que não são canônicas na paródia[64]
 Na verdade, atendendo a essas características, podemos dizer que foi nesse percurso de acreditando nesses conceitos de vários teóricos e nessas verdades que nos tornamos reais e verdadeiros “indivíduos”, porém, sem ainda nenhuma aceitação social nem relacional.
O termo “capitalismo tardio”, definido por Jameson, vem mostrar para a sociedade atual como os Estados Unidos da América começaram a desencadear/desdobrar o que nós chamamos de Pós-modernismo sobretudo na economia de mercado.  E ainda, quando falamos do vídeo, da imagem, do espaço entre outras referências desse período, estaremos dialogando, ou seja, falando de uma fase totalmente esplendorosa da globalização.
O debate da concepção de Pós-modernismo no Brasil, segundo Coutinho e Moriconi busca interpretá-lo como um “mosaico de peças dispares”, sem fugir da temática da heterogeneidade. O Pós-Modernismo em terras brasileiras adquire um caráter revolucionário e renovador em comparação ao Modernismo, com as suas tendências e características impares e diferenciadas, desde a poesia até a prosa de ficção e sempre buscando o debate e a crítica dentro de si próprios.
A partir das elucubrações de Bauman, é possível assertar que o mundo contemporâneo se “liquefez”, ou seja, houve um derretimento do conceitos e filosofias sólidas e acabadas. A solidez das coisas acabaram, das relações econômicas às relações interpessoais, tudo está em constante fluidez, os laços das relações são frouxos, e as relações são passageiras. As leis do mercado regem a vida particular, e os sujeitos devem assujeitar-se para ter identidade, ou possivelmente recriar sua identidade a partir de ambientes virtuais. Mesmo assim, a fluidez da sociedade contemporânea é constante. É preciso manter-se na corrida ou será descartado como objetos desatualizados, é preciso saber gerenciar a vida baseada na ética do mercado, pessoas e instituições são postas em segundo plano. Uma verdade permanece constante: é preciso manter-se na corrida para não ser esquecido num labirinto, ou desaparecer sob a camada de gelo fino que poder ruir. Do mesmo modo que as coisas se constroem rapidamente e, rapidamente, mudam e se transformam, tudo flui, e numa torrente evidentemente acelerada. Assim é impossível concluir qualquer coisa a respeito da contemporaneidade, pois tudo é tão fluido, ademais seria insensatez, visto que nenhuma conclusão se sustentaria por muito tempo, correndo o risco de ser imprecisa ou obtusa, ao ponto de cercear conceitos que ainda não se podem se sustentar,pois se alicerçam sobre o fugaz.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
 
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______, Zygmunt. Tempos líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar., 2007.
______, Zygmund. Vida líquida.  Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
______, Zygmunt. Fronteiras do Pensamento: diálogos com Bauman. Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais (NPEC), Rio Grande do Sul, 2011 - http://www.youtube.com/watch?v=1miAVUQhdwM&hd=1 acesso em 29 de setembro de 2013.
COUTINHO, Eduardo F., Literatura Comparada na América Latina: Ensaios. Ed. UERJ, 2003
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 10ª ed.. Tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guaraciara Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.
HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo:história, teoria, ficção. Tradução Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1991.
,JAMESON, Fredric. A lógica cultural do capitalismo tardio. Editora ática, 2004
______, Fredric. Espaço e imagem:teorias do pós-moderno e outros ensaios. Ed. UFRJ, 2004.
______, Fredric. A virada cultural: reflexões sobre o pós-modernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2006.
JOHNSON, Spencer. Quem mexeu no meu Queijo?. 1ª ed. Tradução de Maria Clara de Biase; 4ª tiragem. Rio de Janeiro: Record, 2000.
_____, Spencer & BLANCHARD, Kenneth. O gerente minuto. 28ª ed.. Tradução Ruy Jungman. Ed. Record, Rio de Janeiro, 2007.
LUCAS, George. American graffit, 1973.
LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Tradução: Ricardo Correia Barbosa. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.
MOORE, Michael. Fahrenheit 9/11, 2004.
MORICONI, Ítalo. A problemática do Pós-Modernismo na literatura brasileira. Ed. UERJ , 2004
SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da letra, Companhia das L



[1] O seu ideal de futuro é um esquema de compras.
[2] Marx & Engels apud HALL A identidade cultural na pós modernidade. p14.
[3] GIDDENS apud HALL A identidade cultural na pós modernidade.
[4] GIDDENS apud HALL A identidade cultural na pós modernidade.
[5] SCRUTON apud HALL A identidade cultural na pós modernidade.
[6] HOBSBAWM e RANGER apud HALL A identidade cultural na pós modernidade.
[7] HALL. A identidade cultural na pós modernidade. p. 54.
[8] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.13.
[9] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.23.
[10] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.23.
[11] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.23.
[12] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.26.
[13] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.21.
[14] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno, p.25.
[15] CHAMBERLAIN apud SANTIAGO. “Pós- modernidade e a ficção Brasileira dos anos 70 e 80”. p.601.
[16] JAMESON. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno,p.23.
[17] JAMESON apud FEATHERSTONE. Cultura de Consumo e Pós-Modernismo, p. 81.
[18] SANTIAGO. Nas malhas da letra. p.117.
[19] JAMESON. A lógica Cultural do Capitalismo Tardio. p. 5.
[20] JAMESON. A lógica Cultural do Capitalismo Tardio. p. 6
[22] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p. 5.
[23] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p. 7
[24] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.7
[26] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.6
[27] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.30
[28] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.31
[29] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.14
[30] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.32
[31] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.32
[32] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.18
[33] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.28
[34] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.23
[35] JAMESON.A lógica Cultural do Capitalismo Tardio, p.46.
[36] JAMESON. Espaço e imagem. p.130.
[37] JAMESON. Espaço e imagem. p.132.
[38] JAMESON. Espaço e imagem. p.134
[39] JAMESON. Espaço e imagem. p.134
[40] LYOTARD. A Condição pós-moderna. p.29.
[41] HUTCHEON, Linda. A Poética do Pós-modernismo. p.19.
[42] HUTCHEON, Linda. A Poética do Pós-modernismo. p.20.
[43] BAUMAN. .Tempos líquidos. p.7.
[44] BAUMAN. Tempos líquidos.p.7.
[45] BAUMAN. Vida líquida. p. 8
[46] BAUMAN. Vida líquida. p. 9
[47] BAUMAN. O mal-estar da modernidade. p. 33.
[48] BAUMAN. O mal-estar da modernidade. p. 34
[49] BAUMAN. O mal-estar da modernidade. p. 35
[50] BAUMAN. Tempos líquidos. p. 8
[51] JOHNSON. Quem mexeu no meu queijo? p. 9
[52]  JOHNSON. Quem mexeu no meu queijo? p. 10
[53] BAUMAN. O mal-estar da pós-modernidade. p. 63.
[54] BAUMAN. Modernidade líquida. p. 135
[55]  BAUMAN. Modernidade líquida. p. 146
[56] [56] BAUMAN. Modernidade líquida. p. 195.
[57] Coutinho. Literatura Comparada na América Latina: Ensaios. p.103.
[58] Coutinho. Literatura Comparada na América Latina: Ensaios. p.104.
[59] Coutinho. Literatura Comparada na América Latina: Ensaios. p.103
[60] Moriconi. A problemática do Pós-Modernismo na literatura brasileira. p.12.
[63] Deus salve a Rainha/ porque os turistas são grana(...) Oh Deus salve a História (...) Todos os crimes são pagos (...) Quando não há futuro (...) Nós somos as flores/ Na lata de lixo (...) Em sua máquina humana (...) Nós somos o futuro/ Seu futuro (...) Não há futuro/ Sem futuro (...) Sem futuro para você (...) Sem futuro pra mim.
[64] SANTIAGO.. Nas malhas da letra.. p. 117.